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O Impacto das Emoções Tóxicas no Ambiente de Trabalho

Liderança - 10/06/2023

No ambiente de trabalho, muitas vezes é difícil reconhecer quando nossa saúde e bem-estar estão sendo afetados negativamente. Frustrações que consideramos normais devido às diferenças entre colegas e às demandas profissionais podem esconder um problema mais profundo. Lidar com altas cargas de trabalho, prazos apertados, líderes inflexíveis e metas inalcançáveis em uma economia instável torna-se ainda mais desafiador quando somos constantemente bombardeados com informações que nos distraem do que realmente importa.

Peter J. Frost, um especialista canadense em diversidade e gestão de recursos humanos, explora a realidade inevitável das emoções negativas no ambiente de trabalho em seu livro "Toxic Emotions at Work and What to Do About Them". Ele destaca como essas emoções podem impactar negativamente a produtividade, motivação e bem-estar dos funcionários.

Causas das Emoções Negativas

Pesquisas têm demonstrado que as principais causas desses sentimentos são a pressão excessiva, a falta de reconhecimento, o ambiente hostil, a falta de autonomia, os conflitos interpessoais, a sobrecarga de trabalho e a falta de perspectivas de crescimento profissional. Um estudo da International Stress Management Association (ISMA-BR) em 2020 revelou que 72% dos trabalhadores brasileiros se sentem estressados no trabalho, principalmente devido ao excesso de tarefas, prazos apertados, falta de apoio e feedback inadequado dos líderes. Outra pesquisa realizada pela empresa de tecnologia Citrix em 2021 mostrou que 39% dos trabalhadores brasileiros se sentem sobrecarregados de trabalho, enquanto 35% relatam falta de reconhecimento e 31% consideram o ambiente de trabalho estressante.

O Impacto na Saúde Mental e Bem-Estar

A presença constante de situações estressantes e desafiadoras no ambiente de trabalho pode levar ao surgimento de emoções negativas, como raiva, frustração, inveja e ciúme, que prejudicam a saúde mental dos funcionários. Essas emoções consomem energia e exigem esforço adicional, envolvendo incertezas e pressões externas. Quando perdemos o controle nessas situações, é comum experimentar ansiedade, medo, insegurança, frustração e impotência.

A exposição prolongada a circunstâncias estressantes é uma das principais causas de problemas de saúde mental. O estresse crônico afeta a química do cérebro, perturbando a produção e o equilíbrio de neurotransmissores, como serotonina, dopamina e cortisol. Essas alterações podem resultar em uma variedade de sintomas emocionais, físicos e comportamentais. Por exemplo, a escassez de serotonina pode causar ansiedade e depressão, enquanto o excesso de cortisol pode levar a distúrbios do sono, ganho de peso e pressão arterial elevada.

Emoções Tóxicas e Seu Impacto no Ambiente de Trabalho

Quando as emoções não são adequadamente gerenciadas, elas se tornam tóxicas e afetam não apenas a saúde emocional e física dos indivíduos, mas também a produtividade e a eficácia da empresa como um todo. No ambiente de trabalho, emoções tóxicas comuns incluem raiva, inveja, ciúme, medo, ansiedade e frustração. Essas emoções podem se manifestar de várias formas, como comportamento agressivo, críticas excessivas, isolamento social, pessimismo, apatia e falta de motivação. A toxicidade dessas emoções reside no fato de que elas podem se espalhar rapidamente, afetando a cultura organizacional e impactando a moral e o desempenho de toda a equipe.

No artigo "Toxic Emotions at Work and What to Do About Them", Frost analisa a pesquisa conduzida por Joel H. Neuman, da State University of New York, em New Paltz. Essa pesquisa revela que o estresse profissional causado por comportamentos emocionalmente tóxicos custa anualmente US$ 300 bilhões à economia americana. Esse custo é estimado considerando fatores como absenteísmo, diminuição da produtividade, rotatividade de pessoal, gastos com seguros, cuidados médicos, despesas legais e a ocorrência de violência no local de trabalho.

Lidar com as emoções no ambiente de trabalho pode ser desafiador, pois muitas vezes são subjetivas e não baseadas em fatos concretos. Isso pode levar os funcionários a se tornarem competitivos e hostis uns com os outros, prejudicando a produtividade e eficácia da equipe. Infelizmente, a cultura empresarial tende a evitar discutir essa "agenda emocional", resultando na negligência do bem-estar emocional dos colaboradores.

A importância dos Líderes e Gestores na Gestão da Toxicidade

Estudos confirmam a influência dos líderes na qualidade do ambiente de trabalho, pois seus comportamentos emocionais podem afetar a toxicidade do ambiente. Os líderes desempenham um papel crucial na criação de um ambiente de trabalho saudável ou tóxico, dependendo de como lidam com suas emoções e de como isso afeta as pessoas ao seu redor. Pesquisas científicas também demonstram a importância de ambientes positivos para a saúde em geral, bem como o impacto das emoções negativas em nosso sistema imunológico.

O artigo "A Cultura Emocional do Ambiente de Trabalho", publicado na "Harvard Business Review" e escrito por Sigal Barsade e Olivia A. O'Neill, destaca a importância das emoções no ambiente profissional e o papel crucial que os líderes desempenham na criação de uma cultura emocional positiva ou negativa. Os autores revelam que as emoções dos líderes são absorvidas pelos funcionários, afetando seu bem-estar emocional e seu desempenho no trabalho.

Quando os líderes expressam emoções positivas, como alegria e entusiasmo, os colaboradores tendem a se sentir mais engajados e satisfeitos com seu trabalho. Por outro lado, quando os líderes expressam emoções negativas, como raiva e frustração, os liderados tendem a se sentir estressados e desmotivados.

No livro "Toxic Emotions at Work and What to Do About Them", Peter J. Frost discute a importância de lidar com emoções negativas no ambiente de trabalho. Ele introduz o conceito de "Toxic Handlers" (gerentes de toxicidade), pessoas com habilidades de comunicação e empatia capazes de lidar com colegas difíceis ou comportamentos tóxicos sem serem afetadas emocionalmente. Esses "Toxic Handlers" atuam como intermediários entre funcionários tóxicos e a gerência, buscando resolver conflitos, aliviar tensões e manter a harmonia no ambiente de trabalho. Eles desempenham um papel fundamental no gerenciamento das emoções tóxicas, oferecendo suporte emocional, incentivando a comunicação aberta e ajudando a encontrar soluções para os problemas que causam estresse.

Os psicólogos Christina Maslach e Michael P. Leiter destacam no livro "A Verdade Sobre o Burnout", a importância dos gestores na gestão da toxicidade no ambiente de trabalho. Eles ressaltam o impacto das emoções tóxicas no esgotamento profissional e na saúde mental dos funcionários. Gestores competentes no manejo das emoções tóxicas são essenciais para o bem-estar dos funcionários e para a produtividade das empresas. Esses gestores possuem habilidades interpessoais avançadas e são capazes de lidar com emoções difíceis, oferecendo suporte emocional aos colegas de trabalho que enfrentam estresse e outras emoções negativas. Sua capacidade de gerenciar a toxicidade contribui para um ambiente de trabalho saudável e harmonioso.

Lidar com emoções tóxicas no ambiente de trabalho pode ser desgastante e desafiador para todos os envolvidos. No entanto, gestores capacitados em habilidades interpessoais podem desempenhar um papel crucial na gestão dessas emoções, promovendo um ambiente saudável e produtivo.

Gerenciando Emoções Tóxicas no Trabalho

Para lidar com as emoções tóxicas no ambiente de trabalho, é essencial desenvolver habilidades emocionais, autoconhecimento e interocepção (habilidade de reconhecer e interpretar as sensações internas do corpo). Confira algumas estratégias eficazes para gerenciar emoções tóxicas no trabalho.

Reconhecendo e Validando Emoções: O primeiro passo para gerenciar emoções tóxicas é reconhecê-las. Tanto os funcionários quanto os gestores devem estar atentos aos sinais de emoções negativas, como raiva, frustração e estresse. É importante validar essas emoções, permitindo que as pessoas se expressem e se sintam ouvidas.

Promovendo a Comunicação Aberta: A comunicação aberta desempenha um papel crucial no gerenciamento de emoções tóxicas. Os gestores devem criar um ambiente seguro e acolhedor, encorajando os funcionários a expressarem suas emoções de forma construtiva. Isso pode ser feito por meio de reuniões individuais, sessões de feedback ou até mesmo espaços de diálogo aberto.

Desenvolvendo a Inteligência Emocional:
A inteligência emocional é fundamental para lidar com emoções tóxicas. Ela envolve a capacidade de reconhecer, entender e gerenciar as próprias emoções e as dos outros. Os gestores podem investir em treinamentos e programas que desenvolvam a inteligência emocional da equipe, promovendo habilidades como empatia, autorregulação emocional e habilidades sociais.
Resolução de Conflitos Construtiva: Emoções tóxicas frequentemente estão associadas a conflitos interpessoais. Para gerenciá-las de forma eficaz, os gestores devem promover a resolução de conflitos construtiva. Isso pode incluir a mediação de discussões, o estabelecimento de regras de comunicação respeitosa e a promoção da empatia e compreensão mútua.

Fomentando o Autocuidado: O autocuidado é essencial para lidar com emoções tóxicas no trabalho. Os gestores devem incentivar os funcionários a cuidarem de si mesmos, tanto física quanto emocionalmente. Isso pode envolver a promoção de pausas regulares, a criação de um ambiente de trabalho saudável e a disponibilização de recursos de suporte, como programas de bem-estar e aconselhamento.
Promovendo uma Cultura Positiva: Uma cultura organizacional positiva é fundamental para gerenciar emoções tóxicas. Os gestores devem estabelecer diretrizes claras de comportamento e promover valores como respeito, compaixão e colaboração. Isso cria um ambiente no qual as emoções negativas são menos propensas a surgir e onde os funcionários se sentem apoiados e valorizados.
 
Refletindo sobre a Inclusão das Emoções na Gestão Empresarial

Estudos conduzidos por Peter Harms e Marcus Credé destacam a conexão entre a agenda emocional e a liderança transformacional. Líderes com alta inteligência emocional são mais eficazes na criação de uma cultura organizacional positiva, que promove a satisfação da equipe e um alto desempenho.

Pesquisadores como Rajendra Sisodia, Jagdish Sheth e David B. Wolfe, em "Os Segredos das Empresas Mais Queridas", enfatizam os resultados positivos alcançados pelas empresas ao incluírem as emoções em seus princípios de gestão. Ações simples, como gentileza, compartilhamento de conhecimento, diálogos abertos e apoio, indicam uma cultura emocional baseada no respeito e compaixão.

Quando o ambiente de trabalho incentiva a expressão de sentimentos e desenvolve a habilidade de ouvir e compreender, os líderes podem motivar seus liderados e alcançar mudanças pessoais, sociais e ambientais. É crucial que as empresas tomem medidas para gerenciar emoções tóxicas e promovam um ambiente saudável e produtivo para todos.

Conclusão

É hora de enfrentarmos de frente o desafio das emoções tóxicas no ambiente de trabalho! Ao agir como "Toxic Handlers", os gestores capacitados podem desempenhar um papel fundamental na gestão dessas emoções, promovendo um ambiente de trabalho saudável e inspirador. Compartilhe essa mensagem e convide mais pessoas a se juntarem a nós nessa jornada rumo a um ambiente de trabalho positivo e construtivo. A mudança começa com a conversa e a ação. Vamos fazer a diferença juntos!


Autoria: Rangel Lima - Palestrante e Mentor Comportamental





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